Paleontologia Forense: fundamentos e campo de trabalho contemporâneo


É muito recorrente que quando se fala em paleontologia, venha uma série de confusões básicas no consenso popular brasileiro com arqueologia, geologia antropologia e biologia.  Sabemos que a paleontologia parte do princípio de analisar vestígios de restos de seres vivos conservados em sedimentos ao longo do registro geológico.


E quando falamos de paleontologia forense? O que vêm na cabeça? Quais são as áreas prioritárias?


Pois bem, se pegamos do início, desde de Sinclair em 1953, veremos com o Texto “Notes on Forensic Paleontology” já se tinham grandes discussões de quais eram os enfoques que essa ciência deveria se dar.


Muito tempo se passou até os tempos atuais, e o desenvolvimento tecnológico e de técnicas das áreas geocientíficas como a petrografia, pedologia, geofísica, geoquímica passaram a ser empregadas na área forense. E essas técnicas são muito mais requeridas do que as de paleontologia e palinologia devido que os resultados obtidos serem muito mais precisos e exigem uma capacitação profissional menor e gastos menores do que a consultoria de um paleontólogo. Contudo, em alguns casos, a análises de macrofósseis e principalmente de microfosséis foram cruciais para resolução de casos famosos como o assassinato de Elisa Claps e o sequestro de Kenneth J. Young.


As áreas alicerceais na paleontologia forense são:


Bioestratigrafia


Área que propicia-se da identificação taxonômica e cronológica dos fósseis para realizar diferenciações geocronológicas do período de deposição e diagênese de estratos sedimentares nos quais não são possíveis de serem realizados ensaios isotópicos. Nesses casos são utilizados os fósseis index, ou fósseis guia. Microfósseis são muito aplicados como fósseis guia.

Figura – Correlação bioestratigrafia. Fonte: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/5626581/mod_resource/content/1/Aula%2002%20-%20Bioestratigrafia.pdf


Análises de Fácies Sedimentares


A identificação de estruturas típicas sedimentares desencadeadas pelos regência e consonância com o clima, fatores bióticos e abióticos promovidos em cada ambiente terrestre é imprescindível para o paleontólogo, pois é por meio de compreensão da energia mecânica presentes nos ambientes que ele será capaz de interpretar se existe a possibilidade de preservação, retrabalhamento de espécimes fossilíferos.

Figura – Exemplo de fácies sedimentares presentes na área de estudo do artigo “Geoquímica inorgânica e orgânica dos folhelhos da Formação Pimenteiras: implicações para um sistema petrolífero não convencional” de autoria SOUZA, A.C.B. et al. do ano de 2018.


Icnologia


Interpretação de rastros e pegadas de invertebrados e vertebrados que podem ser aplicados em análises antes e posteriormente a exumação de corpos humanos e animais.

Figura – Registro de pegadas do Cretáceo da “Trilha fossilizada no Vale dos Dinossauros. Autoria: Fabio Columbini.


Análises Tafonômicas


Área histórica da paleontologia que analisa a bioestratinomia, o sepultamento e a diagênese que ocorrem em um fóssil tendo uma análise bem detalhada do espécime, suas possíveis interações ecológicas e seu processo de fossilização. Os métodos de sepultamento e bioestratinomia são mais aplicados na perícia.


Experiência em Trabalho de Campo e Práticas Laboratoriais


Os preparativos, as melhores técnicas para serem desempenhadas antes e durante o processo de escavação, como registrar de forma fidedigna os locais presentes com icnofósseis, são habilidade necessárias para um paleontólogo, e que variam muito de acordo com o tipo de sedimento e ambiente local. Variações ambientais sutis são informações substanciais valiosíssimas na mão destes profissionais.


Além do campo, é necessário técnicas laboratoriais, que muitas vezes são repetitivas.


Caso Famoso


O Assassinato de Elisa Claps



Elisa era uma jovem que desapareceu no dia 12 de Setembro de 1993 e foi encontrada morta no sótão de uma igreja 17 anos depois em Sotenza na Itália. Durante o exame dos calçados da vítima, foram encontrados dois fragmentos pequenos de calcário presos na ranhura da Sola. Acontece que vários outros fragmentos estavam presentes no chão do sótão ao lado do corpo. 300 fragmentos foram analisados em primeira instância, e posteriormente, 70 foram comparados aos fragmentos que estavam presente na ranhura do solado. Somente por análise de fácies e fósseis foi possível estabelecer um link entre os fragmentos espalhados no local e no corpo, podendo assim, determinar o provável local da execução. Esses pedaços teriam entrado no calçado de Elisa, provavelmente quando ela ainda caminhava pelo local.


A indicativa é que Elisa foi atacada, violenta sexualmente de acordo com os registros de autópsia corporal. Ela sofreu 12 ferimentos, 9 nas costas e 3 na frente. O culpado é Daniel Restivo, o assassino de Heather Barnett também, que possui o bizarro hábito de colecionar fios de cabelos de suas vítimas.


Figura – Igreja em Potenza na Itália onde o corpo de Elisa Claps foi encontrado.
Alexa Carmo

Graduanda do 8º período de Geologia na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), membro do UFMG IFG Student Chapter.


Fontes


SACCHI, E.  et al. Forensic Paleontology: A Tool for “Intelligence” and Investigation. Journal of Forensic Sciences. May 2013 Vol 58. No.3. DOI: 10.1111/1556-4029.12084

https://www.bbc.com/news/uk-england-14001865

https://www.bournemouthecho.co.uk/news/9067890.elisa-claps-stabbed-to-death-in-church/#gallery0

https://www.researchgate.net/publication/323372594_Geoquimica_inorganica_e_organica_dos_folhelhos_da_Formacao_Pimenteiras_implicacoes_para_um_sistema_petrolifero_nao_convencional

https://www.bournemouthecho.co.uk/news/9067890.elisa-claps-stabbed-to-death-in-church/#gallery1

https://www.bbc.com/news/uk-england-14001865

https://www.bournemouthecho.co.uk/news/9067890.elisa-claps-stabbed-to-death-in-church/#gallery0

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